Há um meme recente que diz mais ou menos o seguinte: “As pessoas sempre dizem aos introvertidos para serem mais falantes e saírem de suas zonas de conforto, mas ninguém diz aos extrovertidos para ficarem quietos e tornarem a zona mais confortável.”
Há muitos artigos que dão conselhos sobre como os introvertidos podem ser mais extrovertidos e como as pessoas quietas podem reivindicar mais espaço sendo mais barulhentas. Mas e esse invertermos essa análise? O que será que podemos aprender com as pessoas quietas?
Como parte de nosso compromisso com o aprendizado constante e o desenvolvimento de talentos, o Volaris Group trabalha para destacar novas práticas recomendadas, estratégias de gerenciamento ou novas formas de pensar. Nossos gestores de equipe se concentram na criação de um plano de desenvolvimento exclusivo para cada profissional, que se baseia em seus pontos fortes e identifica maneiras pelas quais a organização pode ajudá-los a prosperar. Décadas de experiência nos ensinaram que abrir espaço para uma quantidade maior de vozes resulta em mais colaboração e melhores resultados.
Embora a introversão/extroversão pareça ser um binário, na realidade, as pessoas se enquadram em uma faixa de variação dessa característica. Apenas para lembrar, as pessoas com tendência à introversão se renovam quando estão sozinhas e pensam para falar; enquanto as pessoas com tendência à extroversão se sentem renovadas quando estão em grupos e falam para ativar o pensamento.
A expressão de comportamentos introvertidos/extrovertidos pode ser situacional. A composição de um grupo, a dinâmica socioeconômica e a experiência profissional/pessoal podem determinar a frequência com que ficamos quietos. E para alguns, ficar quieto é uma escolha – você pode ser mais franco em cenários específicos ou mais retraído em outros, por exemplo.
Ouvir e ter insights sobre as pessoas
Quando você fica quieto, pode ouvir, e quando ouve, aprende. Como conta o escritor de desenvolvimento pessoal, Tim Denning:
Quando eu estava em um emprego e não tinha muita habilidade para cuidar de uma empresa de tecnologia de bilhões de dólares do Vale do Silício, eu fiquei apenas ouvindo até [adquirir conhecimento]. Ao participar de reuniões e não dizer nada, aprendi o que o cliente fazia e como funcionava o negócio do meu empregador. Ninguém nessas reuniões jamais descobriu que eu ainda não tinha a menor ideia.
As pessoas quietas percebem coisas que os outros não ouvem. Como não estão sempre pensando no que vão dizer em seguida, é mais provável que percebam as nuances de diferentes perspectivas.
As pessoas com tendência à introversão também tendem a ter uma melhor compreensão das pessoas. Isso pode ocorrer porque elas passam mais tempo observando os outros (e ouvindo), mas também porque elas próprias podem ser mais introspectivas, com menos vieses motivacionais.
Essa pode ser uma habilidade de liderança altamente eficaz. Os introvertidos tendem a se sair melhor em uma crise porque podem usar suas percepções para neutralizar possíveis conflitos. Além disso, os líderes introvertidos são benéficos quando os membros da equipe são proativos. É mais provável que adotem os estilos de liderança humilde e de liderança de coaching – saindo do caminho para que os membros da equipe tenham um bom desempenho, mas fornecendo apoio e insight quando necessário. Pesquisas parecem mostrar que eles se sentem mais à vontade para ouvir e considerar cuidadosamente as sugestões de sua equipe.
Os líderes introvertidos brilham em reuniões individuais com membros da equipe. Eles podem trazer para a mesa a percepção de seu pessoal e a tendência de preparar o trabalho sem dominar as conversas.
Como disse o autor de best-sellers Jim Collins, “Não precisamos de personalidades gigantescas para transformar as empresas. Precisamos de líderes que construam não seus próprios egos, mas as instituições que dirigem”.
Duas outras áreas em que as percepções sobre as pessoas e a boa capacidade de ouvir são poderosas? Vendas e negociações. Os vendedores introvertidos podem canalizar sua profunda capacidade de ouvir para a conscientização do cliente e para comunicações ponderadas que sejam organicamente centradas no cliente. Nas negociações, eles têm uma compreensão dos detalhes e são bons em antecipar pontos de discordância. Eles tendem a se concentrar em ser excelentes em seu ofício em vez de fazer networking, e isso transparecerá em suas relações com os clientes.
Comunicações escritas
Como as pessoas com tendência à introversão pensam para falar, elas geralmente são boas nas comunicações por escrito e essa é uma habilidade que é visível e muito apreciada. As pessoas quietas podem dar ótimas orientações sobre como transmitir informações críticas e anúncios importantes. Elas provavelmente terão um bom controle sobre as preocupações e perguntas não óbvias que devem ser antecipadas.
Elas podem ser fundamentais em um grande projeto ou na tomada de decisões em um grande grupo, pois costumam fazer anotações e organizar os ideias por escrito para si mesmas – conteúdo que pode ser extremamente útil para que os outros mantenham as coisas no lugar. Apenas uma ressalva: é importante solicitá-los de forma gentil para que recebam o reconhecimento de como esse tipo de contribuição é valioso por parte das pessoas que não são boas em fazer anotações.
Tomar decisões melhores
Pesquisas mostram que, em grupos mistos de gênero, as mulheres falam menos e recebem mais interrupções negativas (o que pode resultar na percepção de que elas têm menos autoridade e são menos influentes). Com o tempo, há menos incentivo para contribuir. As minorias étnicas ou culturais enfrentam desafios semelhantes em ambientes de grupo. Às vezes, as pessoas ficam caladas porque é muito trabalhoso ser diferente.
E a introversão/extroversão segue o mesmo padrão. Os introvertidos na sala acabam em um ciclo de feedback negativo e barulhento que dificulta a participação deles.
Quando as decisões da maioria seguem as opiniões mais altas, o que geralmente acontece, elas podem não se basear nas melhores informações. As pessoas quietas absorvem muito e sintetizam o que aprendem, mas geralmente não têm a chance de compartilhar o que sabem. A dinâmica de grupo é estressante para elas, portanto, sua reação natural é não dizer nada.
E se a sua resposta for “Bem, é só falar”, você provavelmente não está entendendo.
Abrindo espaço para as pessoas quietas
1. Trabalho individual
Pesquisas em grupo citadas pela Harvard Business Review e outras fontes sugerem que o trabalho prévio nas reuniões ajuda. Pede-se às pessoas que analisem a pauta ou os problemas com antecedência e escrevam suas ideias e comentários. Essa prática dá a todos a chance de participar e torna a revisão de ideias uma etapa fundamental nas grandes decisões.
As pessoas com tendência à extroversão talvez não gostem dessa abordagem, mas elas assumirão o controle da reunião de qualquer maneira. O método de reunião de memorando de seis páginas da Amazon – em que os participantes passam a primeira metade de uma reunião lendo um plano detalhado antes de usar a segunda parte para questionar as ideias do redator e verificar se os dados corroboram suas suposições – oferece oportunidades para ambos os estilos de comunicação, mas permite que os introvertidos tenham tempo suficiente para se preparar com antecedência.
O tempo para se preparar também produz resultados positivos para o brainstorming. Pesquisas demonstraram que as pessoas provavelmente gerarão um número maior de ideias se não interagirem com outras pessoas, especialmente se não houver oportunidade de anotar as ideias com antecedência.
O brainstorming verbal em que todos participam é menos bem-sucedido por vários motivos:
- Folga social (menos motivação para contribuir quando sabemos que outros o farão);
- Ansiedade social (medo de ser julgado como incompetente);
- Regressão à média (a competência dos grupos cai para um nível mediano);
- Bloqueio de produção (nem todas as ideias serão ouvidas).
Os impactos são maiores para as pessoas mais caladas. Abrir espaço para contribuições individuais antes de uma decisão e facilitar ativamente a discussão para que diferentes pessoas tenham a chance de falar pode revelar percepções mais profundas.
2. Revezamento na hora de falar
Busque estabelecer reuniões em que todos tenham a oportunidade de falar sem interrupções, respeitando o tempo das outras pessoas (ou seja, não focar em discursos longos). Permitir falar “um de cada vez” pode proporcionar um espaço mais seguro para todos os colaboradores. Em uma discussão “acalorada”, isso é difícil. É algo em que as pessoas precisam se empenhar e, provavelmente, será desconfortável no início, para alguns mais do que para outros.
Se você for uma das pessoas mais caladas, terá de se acostumar a ter a sua vez. Pode ser melhor para você ir perto do final, para que tenha tempo de preparar suas ideias e sintetizar o que ouviu dos outros (já que você provavelmente é bom nisso). No entanto, se houve trabalho de preparação para uma reunião, ser o primeiro lhe dá a oportunidade de definir o ponto de partida da conversa, o que talvez não aconteça com muita frequência.
3. Aproveite ao máximo as interações um a um
As reuniões individuais são ótimas para pessoas com tendência à introversão. Para construir sua carreira e buscar funções de gerenciamento, você precisa criar confiança. Se as reuniões em grupo não estiverem na sua zona de conforto habitual, você pode criar confiança e demonstrar bom senso em situações individuais. Em um post sobre como se tornar um líder sendo introvertido, a CEO da Parea, Amy Snook, citou palavras sábias de seu coach: “Não há confiança sem voz”. As pessoas quietas precisam de lugares para compartilhar seus insights e acompanhar as pessoas em seus processos de pensamento – para compartilhar sua opinião.
